terça-feira, 21 de abril de 2015

Por: Dra. Melania Amorim, Obstetra.

Para quem não sabe, 50% das gestantes NORMAIS não dilatam 1cm/hora até chegar aos 6cm.

Não há motivo para intervir com ocitocina, amniotomia ou outras medidas baseando-se tão somente em limites rígidos de tempo se parturiente e bebê estão bem.

Esta mensagem não é de uma comunista do parto. Para maiores informações, consultar:


Altamente perigoso com recomendações do irresponsável, comunista, índio e revolucionário ACOG.
Porque, sabem como é, nem tudo continua como a gente aprendeu na Faculdade, o que já advertia Sidney Burwell.

Evolução é isso aí. Não se trata de retornar ao primitivo e arriscar vidas mas, ao contrário, acompanhar as mudanças na Obstetrícia moderna.


Estuda, gente, estuda!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Sobre o Estado da Obstetrícia no Brasil e porque lutamos tanto

Por Ana Cristina Duarte, Bióloga, Obstetriz.

Porque estamos há anos luz de uma boa obstetrícia no Brasil. Um texto recente que li escrito por um obstetra brasileiro fala sobre:

"A arte obstétrica de assistência ao parto não deveria e não poderia ser exercida por qualquer pessoa face a grandiosidade deste ato médico."

"O parteiro tem a responsabilidade, a obrigação de entregar a família uma mãe e seu concepto absolutamente hígidos."

"Em nenhuma hipótese o feto deverá ficar privado de uma boa oxigenação."

"Pequenos sangramento que acontecem durante o parto lesarão as células cerebrais e isto no futuro da criança poderá traduzir-se por retardo de aprendizado até retardo mental profundo como até paralisia cerebral."

Vejam que a ignorância parte da base e eu quero crer que uma parte razoável dos nossos obstetras não pensem assim, mas de toda forma:

1) A assistência ao parto de risco habitual ou baixo risco não é de exclusividade dos médicos, fato reconhecido por nossa legislação, pela OMS, pelas evidências científicas e pela prática nos países de primeiro mundo. Então parem de dizer que só médico obstetra pode assistir um parto normal.

2) Não existe garantia de resultado em obstetrícia, e é assim que o CRM responde a muitos dos questionamentos: não há como garantir a vida de mãe e de bebê. A garantia que se pode dar é de boa assistência, mas o resultado depende de outros fatores. Mesmo em países com as menores taxas de mortalidade neonatal (coisa que estamos longe), bebês morrem. E algumas poucas mulheres também. Garantia de higidez não existe.

3) Não há como garantir oxigenação de bebês, nem dentro do útero, nem fora. Há como garantir a melhor assistência possível que diminua tanto quanto seja possível o risco de anóxia.

4) Pequenos sangramentos, até determinado nível, são esperados e fisiológicos em partos normais e em cesarianas. E eles não causam maiores danos. É previsto pela natureza. Já as isquemias de médio e grande porte, essas podem causar sequelas. Já a paralisia cerebral, em 95% dos casos aproximadamente não têm qualquer relação com o momento do nascimento mas sim com os eventos da gestação e os do puerpério.

Não me admira que esses caras estejam processados, pois eles prometem algo que não tem como ser conseguido, em nenhum lugar do mundo. E quando eles têm um resultado ruim, as mulheres querem saber onde ficou a garantia de higidez, oxigenação, etc..


Sejam honestos com as mulheres, por favor.

Sobre cesariana eletiva, sem necessidade, com 37 ou 38 semanas de gestação

Por Melania Amorim:

Serviço de utilidade pública: recém-nascidos (RN) entre 37 e 38 semanas são considerados como "termo precoce" e têm uma morbidade significativamente maior, em relação aos RN entre 39 e 40 semanas. A CESARIANA ELETIVA desnecessária (=sem indicação médica) aumenta os riscos de desconforto respiratório, admissão em UTI e outros desfechos neonatais adversos, e esses riscos são tanto maiores quanto menor a idade gestacional. MARCAR CESARIANA ELETIVA SEM INDICAÇÃO antes de 39 semanas É UM CRIME, UM ATENTADO CONTRA OS NEONATOS. Proteja o seu bebê!

terça-feira, 7 de abril de 2015

"Está quase explodindo!", "Você tem o peito tão pequeno, será que vai ter leite suficiente?"

Tô cansada de ouvir que minha "barriga está enorme"... Que estou "quase explodindo"... Ou que meu "peito é pequeno", e que será que vou "ter leite suficiente"...
Não, eu não estou acima do peso, e mesmo que estivesse isso seria problema meu.
Não, a minha barriga não está enorme, está do tamanho que devia estar. É minha segunda gestação e, felizmente, o bebê tem espaço mais que suficiente pra estar aqui e crescer bem.
Não, ele não está enorme e gordo e não, não vou me arrebentar toda para pari-lo porque o parto será suave como deve ser.
E não, minha barriga não está quase explodindo, nem eu vou explodir. Meu corpo aguenta o que está passando e muito bem. Eu tenho boa constituição física, faço Pilates a anos e meus músculos do abdômen e períneo seguram o que têm de segurar, minha pele está bem hidratada e eu me alimento bem... - e mesmo que não fosse nada disso, o problema seria meu também e depois eu lidaria com o que tivesse que lidar.
Estou me sentindo linda e muito bem, segura e feliz, com toda forma redonda, com as veias das pernas altas e roxas, com taquicardia às vezes, usando as roupas que cabem e que posso usar nessa fase e que nem sempre ficam as mais elegantes. Gestar é mágico e pleno, ainda que nem todos consigam entender seu significado!
Sobre o peito pequeno, que não cresceu... Seio grande = gordura no seio! Gordura no seio não é sinal de amamentação com qualidade. O leite é produzido pelas glândulas mamárias e para tê-las funcionais não é preciso ter seios fartos e grandes. Para quem os tem, beleza! Para quem não os tem, beleza tb. A chance de amamentar bem e produzir o leite adequado pro seu/meu bebe (cada um pro seu!) é toda se a saúde estiver bem, e se houver apoio, informação e calma!

Parem, simplesmente parem de tratar corpos femininos com julgamentos e valores, com críticas ou comentários que parecem inocentes, mas incutem defeitos na cabeça da gente!

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Ruptura uterina em mulheres planejando parto vaginal após cesariana prévia (VBAC)

Por: Maíra Libertad - Enfermeira Obstetra.

"O estudo não é novo, tem limitações metodológicas importantes, mas alguns dados são interessantes. Os pesquisadores coletaram dados de todos os casos reportados de ruptura no Reino Unido em 2009-2010 (159 casos analisados, com dados completos).

A taxa de ruptura uterina em mulheres planejando um parto vaginal tendo uma cesárea prévia (VBAC) foi de 21 casos a cada 10.000 nascimentos. Se forem consideradas apenas aquelas que não tiveram indução ou condução do trabalho de parto, esse número cai para 13 em 10.000.

A média de idade gestacional dos casos de ruptura uterina foi de 39 semanas (variando de 8 a 42 semanas). Sete casos ocorreram antes das 24 semanas, sendo 5 deles durante procedimentos de interrupção terapêutica da gestação. Em 21 casos, a mulher tinha cesárea prévia e teve ruptura sem entrar em trabalho de parto ou tentar indução - 14% destas mulheres tinham placenta prévia (condição que aumentou em 28 vezes a chance de ter ruptura uterina). Em 20 casos de ruptura uterina, a mulher não tinha cesárea prévia (3 romperam sem trabalho de parto e 17 em trabalho de parto). Das 139 mulheres com cesárea prévia que tiveram ruptura, 13 tinham 2 ou mais cesáreas - o que aumentou a chance de ruptura em 3 vezes.

Alterações nos batimentos cardíacos fetais foi o sinal mais frequente identificado quando da ruptura uterina (em 76% dos casos), seguido de dor abdominal (49%) e sangramento vaginal (29%).

Das 159 rupturas uterinas, 2 mulheres morreram (1,3%), 15 fizeram histerectomia (9%), 10 tiveram lesão de outros órgãos (6%), 50 foram admitidas em UTI ou similar (31%).

Dos 152 bebês para os quais havia dados completos, 15 foram óbitos fetais (12 antes do parto, sendo 7 deles anteriores à ruptura, e 3 intraparto). Houve ainda 10 mortes neonatais precoces e 41% de admissão em UTI neonatal. A taxa de mortalidade excluindo os casos de óbito fetal anterior à ruptura foi de 124/1000.

Em resumo:
- A taxa de ruptura uterina em VBAC **sem indução ou condução do trabalho de parto** neste estudo foi de 13 em 10.000 ou 1,3 em 1.000 ou 0,13%.
- Rupturas uterinas acontecem (menos frequentemente) mesmo em mulheres sem cesárea prévia e mesmo em mulheres que nem sequer entraram em trabalho de parto.
- Placenta prévia parece ser um fator de risco importante para ruptura uterina.
- Como em qualquer discussão sobre VBAC, é preciso lembrar que os riscos associados se iniciam na PRIMEIRA CESÁREA e não na tentativa de parto em uma gestação atual. Haja vista o risco maior de ruptura uterina em quem tem placenta prévia - condição relacionada fortemente à presença de cicatriz uterina anterior.