quarta-feira, 28 de março de 2012

Em busca do parto natural

Pesquisadora do IFCH traça perfil de parturientes adeptas de procedimento humanizado

Texto de MARIA ALICE DA CRUZ
Publicado em: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/marco2012/ju518_pag06.php

Num momento em que o Brasil é recordista mundial de cesárea, com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), muitas mulheres optam por ter seus filhos da maneira “mais natural” possível (expressão usada por elas), adotando procedimentos domiciliares ou em hospitais preparados para a realização de partos humanizados. Para essas mulheres, mais que um ato médico e fisiológico, o momento de dar à luz é um evento social e cultural, com direito, inclusive, à participação de pessoas da família e amigos, de acordo com constatação da pesquisadora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp Rosamaria Giatti Carneiro.

Ao iniciar sua pesquisa para doutoramento, orientada pela professora Luiza Margareth Rago, para traçar um perfil das parturientes adeptas do parto humanizado, Rosamaria surpreendeu-se, logo na linha de partida do trabalho, com a organização das grávidas em torno da defesa de um nascimento “mais natural”. Inserir-se no mundo ciber, apesar de a pesquisa virtual não nortear o desenvolvimento do estudo, foi um canal rico para chegar aos grupos de preparação para o parto natural, coordenados por profissionais da área de saúde, incluindo da psicologia. São esses especialistas que oferecem informações a mulheres dispostas a viverem outro modelo de parto que não a cesariana. “No mundo virtual, encontrei blogs de mulheres questionando a prática de cesárea no Brasil. O Brasil é recordista mundial de cesárea, apresentando uma taxa de 90% na rede privada e 40% na rede pública, sendo que a OMS recomenda 15% ao ano”, enfatiza Rosamaria.

“Como queria encontrá-las para saber de onde vem esse desejo e quais as consequências sociais de suas práticas, os grupos me pareceram um lugar interessante para realizar a pesquisa etnográfica, mas principalmente por funcionarem como um canal de comunicação entre a pesquisadora e essas mulheres”, esclarece Rosamaria. De antemão, ela deixa claro que seu objetivo sempre foi trabalhar com mulheres, com as “usuárias ou consumidoras”, forma como elas se autodeclaram, e não com propostas institucionais de outro modelo obstétrico.

“Queria ir à base da coisa, à mulher que está grávida e que vai dar à luz. O meu interesse sempre foi pelo feminino, pela perspectiva, pelas práticas e pela palavra feminina”, explica-se. Até porque, pondera a pesquisadora, já existem trabalhos na área de antropologia e da saúde dedicados à questão do movimento Rehuna (Rede da Humanização do Nascimento). E, além disso, existem estudos abordando a prática enquanto movimento social, formação de médicos humanizados e de enfermeiras obstetrizes, afirma. Contudo, ainda faltava abordar academicamente o olhar das grávidas envolvidas nesse movimento.

Antes de inserir-se pessoalmente no universo das grávidas, Rosamaria descobriu nos blogs especializados mulheres narrando suas experiências de parto, frustrações, queixas, suas satisfações num parto que chegou a termo da maneira idealizada pelas mulheres. É nessa blogosfera, segundo Rosamaria, que as mulheres manifestam o desejo de não perder nenhuma das sensações do momento de nascimento de seus filhos, sejam elas associadas à dor do parto, às contrações, às dilatações, como as manifestadas pela mãe ou pela avó que tiveram o antigamente chamado “parto normal”. “A expressão natural circula entre as mulheres e nos grupos nos quais convivi com elas, mas pode significar muitas coisas, desde um parto com anestesia até um parto em casa sem nenhuma intervenção, depende do caso. Por conta disso, o sentido da palavra ‘natural’ tem seu significado ampliado para além de sua literalidade. O mais importante é respeitar cada mulher em suas escolhas, crenças e cultura”. Um aspecto importante da pesquisa é a informação de que, no caso do parto domiciliar, todo o procedimento é acompanhado por enfermeiras obstetrizes e a residência não deve estar localizada a mais de 20 minutos de um hospital.

A convivência de dois anos e meio acompanhando as reuniões permitiu mapear os motivos que levavam mulheres e maridos a este movimento. Muitos parceiros e mulheres declaravam insatisfação com um procedimento de cesárea realizado em gestação anterior ou até mesmo no puerpério, durante recuperação da cirurgia, segundo Rosamaria. Ela percebeu ao longo da pesquisa que o parto tem relações com a vida pregressa das mulheres, ou seja, com a relação com o próprio corpo, família e emoções.

Algumas mulheres chegam a declarar como um parto humanizado em uma segunda gestação pode aliviar o trauma de uma cesárea anterior. O mais importante para as grávidas, segundo Rosamaria, é que seus desejos sejam respeitados. Principalmente o tempo do corpo delas e do psíquico. “No trabalho, identifiquei algumas dessas mulheres como “as cesareadas”, em que o parto mais natural entra como superação de algo que figura como uma ferida na alma - é essa a expressão usada por muitas delas. Neste caso, a mulher busca um parto ‘mais natural’ numa tentativa de ‘ressignificar’ aquela experiência, a da cesárea anterior, de reviver aquilo, reelaborar o que não considerou satisfatório e também porque ela não quer mais viver aquele episódio”, pontua.

Ela acrescenta que existe toda uma relação negativa com o tempo do hospital, marcado no relógio, com limites pré-fixados que não dão margem para cada parto, cada história e cada mulher, bem como em relação à espera da dilatação do colo uterino, quando dá analgesia ou não. O tempo do hospital é uma coisa com a qual elas tentam trabalhar de outra maneira, com escalda-pés, chás, entre outras formas de controlar dilatação e contrações, recorrendo a técnicas alternativas de suavizo das dores.

Profissionais das mais diferentes áreas e religiosas das mais diversas crenças, na sua maioria concentradas na classe média, as mulheres demonstraram que o momento do parto leva em consideração suas crenças, que, segundo Rosamaria, oscilam desde orientação espiritual, até estilo de vida, alimentação, relação com o mundo e com o ambiente. É também momento psíquico e emocional porque as emoções se fizeram presentes durante todo tempo acompanhado pela pesquisadora. “O medo, o receio da dor, da contração e de alguma coisa dar errado. Mas depois a satisfação e o suposto estado de graça”, descreve Rosamaria.

A pluralidade encontrada nos grupos e a forma de organização de mulheres tão diferentes em torno da proposta de um parto mais humanizado são importantes para pensar novos modos de ação social. “Essas mulheres podem estar contribuindo para a reinvenção do parto, da maternidade e apontando para outros modos de existência femininos, maternos e feministas, já que desejam um parto e uma maternidade mais libertários e afeitos às suas expectativas e requerimentos”, reflete Rosamaria.

Ao contrário de algumas premissas de que as adeptas do parto humanizado são necessariamente atraídas por um modelo de vida alternativo, para o qual são usadas expressões rotuladoras como “bicho grilo” ou “natureba”, Rosamaria esteve na companhia de bancárias, advogadas, artistas plásticas, estudantes, pós-graduandas, alto executivas, vegetarianas, evangélicas, católicas, umbandistas, adeptas da filosofia nova era. Entre elas, selecionou 18 trajetórias interessantes para sua pesquisa. Se elas eram tão plurais, tão diferentes entre si, como se aproximavam? A primeira resposta obtida por Rosamaria foi o mundo ciber. “Neste espaço acabam conhecendo outros grupos ou encontrando outras amigas que já tiveram esse tipo de parto. Têm listas de discussão. E eu participei dessas listas”, declara. Juntas, se organizam em passeatas, caminhadas, convocam reuniões, seminários. “E a coisa se dissemina”, avisa Rosamaria.

Do ponto de vista da situação econômica, a pesquisadora diz ter trabalhado com mulheres de camadas médias, encontrando poucas mulheres em situação extremamente confortável, mas também pouquíssimas, quase nenhuma, advindas das camadas mais baixas da sociedade. Algumas famílias chegavam, segundo ela, a fazer empréstimos para poder pagar parto domiciliar, vender o carro, fazer economia para se permitir ter um parto em casa, ou poder custear outro modelo de assistência num hospital. Todas, segundo a pesquisadora, tinham plano de saúde privado, acesso à internet e alguma instrução.

Outro aspecto que chamou atenção na pesquisa foi o capital cultural dessas mulheres. “Elas são questionadoras, indagam os médicos em consulta de pré-natal, indagam sobre a prática do exame de toque (rotina) e muitas vezes pediam segunda opinião para outros médicos”, acrescenta Rosamaria.


PUBLICAÇÃO:
Tese: "Cenas de parto e políticas do corpo: uma etnografia de experiências femininas de parto humanizado
Autora:
Rosamaria Giatti Carneiro
Orientação: Luiza Margareth Rago
Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)

Indicações reais e fictícias de cesariana

Por: Dra. Melania Amorim
Fonte original: http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html


"A presente lista de indicações de cesariana circula na Internet desde 2005, quando eu publiquei a primeira versão em uma comunidade do Orkut ("Cesárea? Não, obrigada!"), e desde então tem sido amplamente divulgada, crescendo lamentavelmente a cada dia, porque estou sempre me deparando com gestantes querendo esclarecimentos ou mulheres que contam suas próprias histórias ou histórias de amigas.

Recentemente, Ana Cristina Duarte, obstetriz e amiga, fez alguns acréscimos e organizou a lista em ordem alfabética, motivo pelo qual lhe dou os créditos da presente versão. É de domínio público, usem à vontade, mas preferentemente remetendo à fonte, ou seja, Amorim & Duarte (2012), com link para esta página da Web.

Não temos a pretensão de cobrir todas as possíveis indicações de cesariana, apenas começamos a elencar sobretudo as "não indicações" mais frequentes.

Para uma leitura mais aprofundada e baseada em evidências, eu recomendo a série de artigos que publicamos na revista Femina, "Indicações de Cesariana Baseadas em Evidências", em três partes:







Segue a lista (em constante atualização):

INDICAÇÕES REAIS E FICTÍCIAS PARA A CESÁREA

Algumas indicações de cesariana...


REAIS

1) Prolapso de cordão – com dilatação não completa;

2) Descolamento prematuro da placenta com feto vivo – fora do período expulsivo;

3) Placenta prévia parcial ou total (total ou centro-parcial);

4) Apresentação córmica (situação transversa) - durante o trabalho de parto (antes pode ser tentada a versão);

5) Ruptura de vasa praevia;


6) Herpes genital com lesão ativa no momento em que se inicia o trabalho de parto (em algumas diretrizes, somente se for a primoinfecção herpética).


PODEM ACONTECER, PORÉM FREQUENTEMENTE SÃO DIAGNOSTICADAS DE FORMA EQUIVOCADA

1) Desproporção cefalopélvica (o diagnóstico só é possível intraparto, através de partograma e não pode ser antecipado durante a gravidez);

2) Sofrimento fetal agudo (o termo mais correto atualmente é "freqüência cardíaca fetal não-tranqüilizadora", exatamente para evitar diagnósticos equivocados baseados tão-somente em padrões anômalos de freqüência cardíaca fetal);

3) Parada de progressão que não resolve com as medidas habituais (correção da hipoatividade uterina, amniotomia), ultrapassando a linha de ação do partograma.


Nota: o uso do partograma de Friedman é altamente questionável. A curva de evolução do trabalho de parto tem grande variação, recomendando-se atualmente a curva de Zhang, com percentis. Pela grande variação do que é fisiológico, considera-se que não é necessário intervir para apressar um parto quando mãe e bebê estão bem.


SITUAÇÕES ESPECIAIS EM QUE A CONDUTA DEVE SER INDIVIDUALIZADA, CONSIDERANDO-SE AS PECULIARIDADES DE CADA CASO E AS EXPECTATIVAS DA GESTANTE, APÓS INFORMAÇÃO

1) Apresentação pélvica (recomenda-se a versão cefálica externa com 37 semanas mas se não for bem sucedida, discutir riscos e benefícios com as gestantes: o parto pélvico só deve ser tentado com equipe experiente e se for essa a decisão da gestante);

2) Duas ou mais cesáreas anteriores (o risco potencial de uma ruptura uterina – variando de 0,5% - 1% - deve ser pesado contra os riscos de se repetir a cesariana, que variam desde lesão vesical até hemorragia, infecção e maior chance de histerectomia);


3) HIV/AIDS (cesariana eletiva indicada se HIV + com contagem de CD4 baixa ou desconhecida e/ou carga viral acima de 1.000 cópias ou desconhecida); em franco trabalho de parto e na presença de ruptura de membranas, individualizar casos.


Algumas desculpas frequentemente utilizadas pelos profissionais para realizar uma DESNEcesárea (em ordem alfabética)

1.        Abdominoplastia prévia
2.        Aceleração dos batimentos fetais
3.        Adolescência
4.        Ameaça de chuva/temporal na cidade
5.        Anemia falciforme
6.        Ameaça de parto prematuro (?)
7.        Anemia ferropriva
8.        Anemia de qualquer tipo (entendam, gestantes, a cesariana vai agravar a anemia, uma vez que a perda sanguínea é cerca de 500ml no parto normal e 1.000ml na cesariana
9.        Anencefalia
10.      Anticoagulação (uso de warfarin que já deveria estar suspenso a termo, uso de heparina de baixo peso molecular, uso de heparina convencional)
11.      Artéria umbilical única
12.      Asma
13.      Assalto ou outras formas de violência (gestante ou familiar foi vítima de assalto, então o bebê pode ficar estressado)
14.      Acidente Vascular Cerebral (AVC) prévio
15.      Bacia "muito estreita"
16.      Baixa estatura materna
17.      Baixo ganho ponderal materno/mãe de baixo peso
18.      Bebê alto, não encaixado antes do início do trabalho de parto
19.      Bebê profundamente encaixado
20.      Bebê que não encaixa antes do trabalho de parto
21.      Bebê "grande demais" (macrossomia fetal só é diagnosticada se o peso é maior ou igual que 4kg e não indica cesariana, salvo nos casos de diabetes materno com estimativa de peso fetal maior que 4,5kg. Não se justifica ultrassonografia a termo em gestantes de baixo risco para avaliação do peso fetal).
22.      Bebê "pequeno demais"
23.      Bebê engolindo o líquido amniótico
24.      Bebê flagrado apertando o cordão durante a ultrassonografia, o que aparentemente levou a bradicardia
25.      Bilhete ou telefonema do prefeito/secretário de saúde de município próximo – Bilhete de qualquer político
26.      Bolsa rota (o limite de horas é variável, para vários obstetras basta NÃO estar em trabalho de parto quando a bolsa rompe)
27.      Calcificação da sínfise púbica (alegando-se que ocorreria em TODAS as mulheres com mais de 35 anos, impedindo o parto normal)
28.       Candidíase
29.      Cardiopatia (o melhor parto para a maioria das cardiopatas é o vaginal)
30.      Cegueira materna
31.      Ceratocone
32.      Cesárea anterior
33.      Chlamydia, ureaplasma e mycoplasma
34.      Circular de cordão, uma, duas ou três “voltas” (campeoníssima – essa conta com a cumplicidade dos ultrassonografistas e o diagnóstico do número de voltas é absolutamente nebuloso)
35.      Cirurgia gastrointestinal prévia
36.      Colestase gravídica
37.      Coleta de sangue do cordão umbilical para congelamento e preservação de células-tronco
38.      Colo grosso, colo posterior, colo duro, colo alto e (paradoxalmente) colo curto
39.      Colostomia (sim, porque é melhor fazer uma incisão abdominal perto do estoma com fezes do que um parto normal bem distante da área...)
40.      Conização prévia do colo uterino
41.      Condilomas (verrugas genitais) que não provocam obstrução do canal de parto.
42.      Constipação (prisão de ventre)
43.      Cordão curto (impossível a mensuração antes do nascimento)
44.      Cálculo renal (nefrolitíase)
45.      Data provável do parto (DPP) próximo a feriados prolongados e datas festivas (incluindo aniversário do obstetra)
46.      Datas significativas como 11/11/11 ou 12/12/12 (ainda bem que a partir de 2013 precisaremos esperar o próximo século mas ainda inventam outras...)
47.      Diabetes mellitus clínico ou gestacional
48.      Diagnóstico de desproporção cefalopélvica sem sequer a gestante ter entrado em trabalho de parto e antes da dilatação de 8 a 10 cm
49.      Disfunção da sínfise púbica
50.      Dorso à direita, dorso posterior, ou dorso em qualquer outro lugar
51.      Edema de membros inferiores/edema generalizado
52.      Eletrocauterização prévia do colo uterino
53.      Endometriose em qualquer grau e localização
54.      Enxaqueca materna
55.      Epilepsia e uso de qualquer droga antiepiléptica
56.      Escoliose
57.      Espondilite anquilosante – Qualquer espondiloartropatia
58.      Estreptococo do Grupo B (EGB) no rastreamento com cultura anovaginal entre 35-37 semanas
59.      Exérese prévia de pólipos intestinais por colonoscopia
60.      Falta de dilatação antes do trabalho de parto
61.      Falta de vagas nos hospitais se a gestante não marcar a cesárea
62.      Feto com “unhas compridas”
63.      Feto morto
64.      Fibromialgia
65.      Fratura de cóccix em algum momento da vida
66.      Gastroplastia prévia (parece que, em relação ao peso materno, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come)
67.      Gestação gemelar com os dois conceptos, ou o primeiro, em apresentação cefálica
68.      Gestante saudável demais, correndo o risco de ter um parto fácil e muito rápido, podendo parir antes de chegar ao hospital, com risco de morte do bebê
69.      Gravidez não desejada
70.      Gravidez prolongada
71.      Grumos no líquido amniótico
72.      Hemorroidas
73.      Hepatite B e Hepatite C
74.      Hérnia de disco, operada ou não, em qualquer segmento da coluna vertebral
75.      Hérnia inguinal, hérnia incisional e hérnia umbilical
76.      Hiperprolactinemia
77.      Hipertireoidismo
78.      Hipotireoidismo
79.      História de cesárea na família
80.      História de câncer de mama ou câncer de mama na gravidez
81.      História de depressão pós-parto
82.      História de natimorto ou óbito neonatal em gravidez anterior
83.      História de trombose venosa profunda
84.      História familiar de fibrose cística do pâncreas
85.      HPV com ou sem NIC
86.      Idade materna “avançada” (limites bastante variáveis, pelo que tenho observado, mas em geral refere-se às mulheres com mais de 35 anos)
87.      Incisura nas artérias uterinas (pesquisada inutilmente, uma vez que não se deve realizar oplervelocimetria em uma gravidez normal)
88.      Incontinência urinária de esforço ou estar fazendo muito xixi no final da gravidez
89.      Infecção urinária
90.      Inseminação artificial, FIV, qualquer procedimento de fertilização assistida (pela ideia de que bebês “superdesejados” teriam melhor prognóstico com a cesárea) – motivo pelo qual esses bebês aqui no Brasil muito raramente nascem de parto normal
91.      Insuficiência istmocervical (paradoxalmente, mulheres que têm partos muito fáceis são submetidas a cesarianas eletivas com 37 semanas SEM retirada dos pontos da   circlagem)
92.      Insuficiência Renal Aguda ou Crônica
93.      Laparotomia prévia
94.      Lesão medular (habitualmente acarretando paralisia: tetraplegia, paraplegia, hemiplegia, diplegia, dependendo do nível da lesão): essas mulheres em geral são cadeirantes e podem ter partos sem dor, mas o diagnóstico não é indicação de cesárea!
95.      Líquido amniótico em excesso
96.      Lúpus eritematoso sistêmico (LES)
97.      Magreza da mãe
98.      Malformação cardíaca fetal
99.      Mecônio no líquido amniótico (só indica cesariana se houver associação com padrões anômalos de frequência cardíaca fetal, sugerindo sofrimento fetal)
100.  Mioma uterino (exceto se funcionar como tumor prévio)
101.  Miscigenação racial (pelo “elevado risco” de desproporção céfalo-pélvica)
102.  Neoplasia intraepitelial cervical (NIC)
103.  Nó verdadeiro de cordão (impossível o diagnóstico antenatal, sorry)
104.  98.         Obesidade materna
105.  99.         Paciente “não tem perfil para parto normal”
106.  Paciente “não ajuda para o parto normal” (momento vidente ON: “no fundo ela quer cesárea”)
107.  Parto “prolongado” ou período expulsivo “prolongado” (também os limites são muito imprecisos, dependendo da pressa do obstetra). O diagnóstico deve se apoiar no partograma. O próprio ACOG só reconhece período expulsivo prolongado mais de duas horas em primíparas e uma hora em multíparas sem analgesia ou mais de três horas em primíparas e duas horas em multíparas com analgesia. Na curva de Zhang o percentil 95 é de 3,6 horas para primíparas e 2,8 horas para multíparas)
108.   “Passou do tempo” (diagnóstico bastante impreciso que envolve aparentemente qualquer idade gestacional a partir de 39 semanas)
109.  Perineoplastia anterior
110.  Pé nas costelas
111.  Pé torto congênito
112.  Placenta grau III ou II ou I ou qualquer outra classificação placentária
113.  Placentas baixas não oclusivas do colo do útero
114.  Plaquetopenia
115.  Pólipos uterinos
116.  Possível falta de vaga em maternidade para um parto normal, caso a gestante não marque a cesárea
117.  Pouco líquido no exame ultrassonográfico (sem indicação no final da gravidez em gestantes normais)
118.  Praticar musculação ou ser atleta
119.  Pressão alta
120.  Pressão baixa
121.  Problemas oftalmológicos, incluindo miopia, grande miopia, ceratocone  e descolamento da retina
122.  Profissão professora
123.  Prolapso de valva mitral
124.  Prótese total de quadril
125.  Prurido gestacional
126.  Qualquer malformação fetal incompatível com a vida
127.  Qualquer procedimento cirúrgico durante a gravidez
128.  Queloide ou tendência a queloide podendo complicar uma episiotomia (e a cesárea não? E para que fazer episiotomia?)
129.  Reação vasovagal
130.  Sedentarismo
131.   Septo uterino/cirurgia prévia para ressecção de septo por via   histeroscópica
132.  Ser bailarina
133.  Sono fetal (bebê que dorme durante o trabalho de parto)
134.  Suspeita ecográfica de mecônio no líquido amniótico
135.  Síndrome de Down e qualquer outra cromossomopatia
136.  Síndrome de Ovários Policísticos (SOP)
137.  Tabagismo
138.  Trabalho de parto prematuro
139.  Trânsito urbano muito intenso
140.  Tricomoníase
141.  Trombofilias
142.  Trombose venosa profunda
143.  Varizes uterinas
144.  Uso de antidepressivos ou antipsicóticos
145.  Uso de aspirina e outros antiagregantes plaquetários (ex.: clopidogrel)
146.  Útero bicorno
147.  Útero retrovertido
148.  Vaginose bacteriana
149.   Varizes na vulva e/ou vagina
150.  Violência urbana, impedindo obstetra (famoso) de sair de casa à noite ou alegada como pretexto para que as gestantes também não sigam o perigoso percurso até a maternidade

Nota: infelizmente isto não é piada. Agradeço a contribuição das gestantes, dos colegas e dos políticos que me mandam bilhetinhos estapafúrdios indicando cesarianas por motivos os mais exóticos, e recentemente a Gisele Leal que compilou mais indicações informadas pelas mulheres dos grupos do Facebook.

Soube de mais algum pretexto estapafúrdio para cesariana? Escreva para melania.amorim@gmail.com ou poste em meu perfil no Facebook: Melania Amorim."