sábado, 3 de dezembro de 2011

Resposta a uma crítica ao Parto Domiciliar planejado feita por uma colega educada e interessada em construir um modelo melhor para as mulheres e seus bebês:

"Caríssima colega, eu entendo perfeitamente sua preocupação e durante muitos anos em minha vida profissional eu compactuei com essa visão. A experiência pessoal como obstetra e o conhecimento de alternativas fora do nosso país me fizeram mudar a minha ideia sobre o evento. Os partos que você acompanha em hospital são artificialmente conduzidos e normalmente são plenos de drogas e intervenções, sejam de ordem química (hormônios), emocional, psicológica e postural.
Assim sendo, os problemas que você normalmente encontra em um hospital são na sua maioria iatrogênicos, produzidos por um ambiente hostil, frio e mecanizado para o nascimento de uma criança. É natural que sua visão sobre nascimentos seja distorcida, pois provavelmente nunca teve a oportunidade de acompanhar um parto totalmente livre de coerções externas.
E isso não é culpa sua, mas de um modelo de assistência iatrocêntrico (centrado no médico), etiocêntrico (centrado na doença) e hospitalocêntrico (que entende o hospital como o único lugar para o tratamento). Nós médicos somos, tanto quanto os pacientes, reféns de um modelo superado, que recebe críticas em todos os lugares do mundo moderno.
Para finalizar, caríssima colega, mais do que a sua opinião sobre essa questão, ou a minha, ambas de caráter pessoal e subjetivo, temos inúmeras publicações atuais que apontam para a segurança do parto planejado em domicílio. A última foi publicada na Inglaterra, com mais de 60 mil pacientes avaliadas, demonstrando a segurança do parto em domicilio e em Casas de Parto quando comparados com partos de baixo risco atendidos em hospital.
Este estudo recente, somando-se a tantos outros (Davis, Klein, De Jonge, etc..) prova que a opção de ter filhos em casa é SEGURA e legítima, pois que trata do exercício da cidadania e da autonomia. Proibir partos domiciliares SEM JAMAIS APRESENTAR UMA PROVA DO RISCO AUMENTADO (mas apenas insinuações ou opiniões pessoais) é tão grave quanto proibir pessoas de se amarem ou se alimentarem em suas casas, permitindo-as fazer isso apenas em hospitais e sob supervisão médica.
Um grande beijo, Ric"

(Ricardo Hebert Jones, Médico Obstetra - http://www.facebook.com/ricardoherbertjones)

Eu adoro o Ric e seus textos...
Faz anos e anos que sempre quando leio palavras dele fico feliz.
Bartira

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